29 de maio de 2009

Este ano devia ser dele

"Xavi Hernandez foi eleito, pela UEFA, o melhor jogador da final da Liga dos Campeões. Estranhamente, no dia seguinte à vitória do Barcelona sobre o Manchester United, o nome que dominava as primeiras páginas e os títulos mais destacados era outro. Para o Corriere della Sera, o argentino Lionel Messi é que era “o rei da Europa”. O mesmo disseram os fãs que expressaram as suas preferências no site da UEFA e que elegeram a “pulga” argentina como o melhor em campo. Ter-se-ão enganado os especialistas da UEFA? Não. Xavi apenas perdeu a guerra da propaganda.

É verdade que Messi marcou um golo, mas quem é que lhe pôs a bola na cabeça? Xavi. É verdade que Messi foi o melhor marcador da competição. Mas quem foi que pautou o jogo do Barcelona, quem é que correu mais, quem foi o mais eficaz no passe? O “subcapitão” do “Barça”, segundo jogador com mais jogos pelos "culé". Esse mesmo, Xavi.

Em Roma, Messi foi o rei do povo, Xavi foi (novamente) o príncipe invisível que manda na equipa. Obviamente, com o estilo dele, é difícil dar nas vistas. No campo de batalha, mais depressa é herói aquele que dá a machadada no adversário. Mas Xavi consegue. Em 2008, no último Campeonato da Europa, em que a Espanha se sagrou campeã em Viena, jogou para a equipa e foi eleito o melhor do torneio. Ontem, reinou em Roma, com a mesma fórmula.

Demorou até chegar à coroa. Foi preciso saber dizer não. Aos 19 anos, disse não ao Milan, que o aliciou com 250 milhões de pesetas. Aos 26, disse não a Rijkaard, quando o holandês o quis a jogar na final da Champions contra o Arsenal. “Não estou em condições de jogar uma partida tão importante”, disse então Xavi ao treinador do Barcelona, tendo a noção de que acabara de sair da única lesão grave que sofreu até hoje. Era a partida da sua vida, e ele abdicou.

Mas o futuro deu novas oportunidades ao anti-herói do “Barça”. E quando chegaram, agarrou-as com a mesma discrição e simplicidade. Duas qualidades que vão com ele para o relvado porque são duas qualidades que lhe nasceram fora do relvado. Enquanto jovem, nunca precisou de um Ferrari. Ia para Camp Nou de autocarro. Para Jorge Valdano, ele é o futebolista mais inteligente do mundo.

Em Roma, fez 66 passes em 94 minutos e apenas falhou cinco. Correu 11,4km, mais do que qualquer outro. Só não marcou, porque a bola foi do pé ao poste da baliza de Van der Sar.

No fim do jogo, enquanto Piqué saía do estádio com a bola do encontro e as redes da baliza de Roma debaixo do braço, enquanto Iniesta passava eufórico e meio equipado, enquanto os do Manchester saíam engravatados e cabisbaixos, Xavi passou discreto, falou o menos possível aos jornalistas, e fê-lo sobretudo para apontar o dedo aos colegas. Messi? “É o melhor do mundo.” O prémio de melhor em campo? “É um sonho, mas tenho de agradecer aos companheiros porque é muito fácil jogar numa equipa assim.”

O contrário também é verdade: com Xavi, qualquer equipa joga facilmente. É ele quem interpreta melhor a máxima daquele que foi seu ídolo e é agora quem o consagra, Guardiola: “O futebol organiza-se em redor da bola”. E no futebol rendilhado do “Barça”, há sempre um ponto de Xavi."
in Publico.pt

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