15 de outubro de 2009

Acordar Cedo

No último fim de semana levantei-me bem cedo e fui fazer uma corridinha ali pelo bairro da Cruz Quebrada e pela mata do Jamor. A cada passo do meu acelerado trote pensava cá para os meus botões (ou neste caso... não sei, só sei que não tinha botões) : "Porque é que as moscas, se são atraídas pela luz ou pelo calor, não voam directamente para o sol e morrem todas?".

Nisto, enquanto corria de ladecos numa curva mais apertada, entro pela área arborizada que tenho perto de casa, sem dúvida um bom sítio onde correr. Depois de passar os primeiros metros que se caracterizam pelos cócos dos cães, chego finalmente a um circuito que lá foi montado há muitos anos, com uma série de estruturas cuidadosamente colocadas de forma a melhorar a condição física de quem se atrever a por aí passar.

Começo pelas argolas, dando alguns piparotes, sigo para barreiras de madeira que ultrapasso que nem uma gazela, continuo pelo cabo preso entre duas árvores que equilibradamente percorro sendo aplaudido no final pelos índios Jamori, e dirijo-me finalmente para a saída em direcção aos campos de ténis ali ao pé.

Mas, quando estou quase quase a abandonar aquela mini-floresta oiço uma vozinha chiada dizer: "Mas onde é que vais?". Surpreendido, viro-me imediatamente mas apenas vejo ar e algumas árvores. Penso logo que estou a ficar cansado e retomo o meu caminho, ouvindo logo de seguida : "Ei! Tava a falar contigo!". Com alguma relutância (não queria muito chegar à conclusão de que estava a ficar tãtã) lá me viro outra vez para não ver nada. "Cá em baixo!", diz a voz.

Então não é que quando olho para baixo está uma lebre que me encara como se fosse do meu tamaho? E ao que parece também fala!

A minha confusão dividiu-se entre Alice no País das Maravilhas e Bugs Bunny. Não sabia o que pensar, não sabia o que fazer, não sabia se havia de falar e assumir definitivamente que estava a ficar maluco, se devia apenas ignorar e tentar seguir caminho da maneira mais natural possível, se devia coçar os olhos ou a cabeça...

Enquanto eu pensava nisto tudo, Gina, a lebre, apagou o cigarro e aconselhou-me a segui-la. Foi o que fiz. Não ia dizer que não a uma coisa tão fofinha.

Sigo então atrás do animal saltitante para zonas por onde nunca tinha passado no meio daquele arvoredo todo. Vejo um lago grande onde embarcações de recreio puxam esquiadores, atravessamos um vale por uma daquelas pontes de madeira duvidosas, passamos pelo Grand Canyon de segway num momento dos mais divertidos dos últimos anos, até chegarmos finalmente à "Toca da Gina", um espaço comercial onde bebi umas valentes "pints" de Guiness que me levaram, pela embriaguez, a pagar uma rodada a um bando de ursos polares.

Com a língua enrolada e a andar aos zigue-zagues, parece que deitei abaixo uma mesa onde estava sentado um dos melhores clientes do bar, o Ministro da Fauna, sendo então cordialmente convidado a sair pela Gina, que antes me tinha obrigado a segui-la e agora fazia-me afastar dela.

Desorientado à saída do bar, tinha duas opções. Ou ia para a esquerda por um caminho ladeado por labaredas gigantes e até algum magma, ou virava à direita para uma caminho que passava pelo Estádio da Luz. Fui pela esquerda.

Corri, corri, corri, para não ser consumido pelo fogo. Os meus pés ardiam como se fossem derreter e colar-me ao chão, o suor escorria pela minha face por vezes ficando uma gota parada entre a sobrancelha e a pestana numa sensação extremamente desagradável. Mas resisti a tudo isso e vi a luz. Estava a chegar ao fim do caminho, estava quase a sair da mata feérica do Jamor.

Finalmete transponho a orla da pequena floresta, e finalmente sinto na cara o calor fresco dos raios de sol do meio dia. Meu Deus! Já tinha passado tanto tempo. Quando saí de casa para enveredar uma corridinha matinal ainda o sol mal tinha nascido e agora já estava bem lá no alto por cima da minha cabeça.

É nisto que dá acordar cedo.

Sem comentários: